Núcleo de Cultura de Paz e Práticas Restaurativas Nelson Mandela 2021

Produção do texto – Coletivo de Professores    
Andreia Arruda Paula
Regina Camargo
Samuel Pereira
Vanessa Moreira
E-mail nucleodeculturadepaz.mandela@gmail.com
Site https://www.facebook.com/nucleonelsonmandela
Instagram:  nucleodec   fone 11.95139 -0149

[1] O Núcleo de Cultura de Paz e Práticas Restaurativas “Nelson Mandela” surgiu como desdobramento das ações realizadas na E.M. Prof. Waldemar Bastos Bühler, cujas atividades são pautadas no âmbito da Cultura de Paz e Justiça Restaurativa. O Núcleo busca refletir e realizar ações que promovam uma Educação para a Paz, em consonância com os princípios da Justiça Restaurativa, nos diversos espaços sociais e escolas de Atibaia. A partir de 2018, o Núcleo passou a atuar em São Paulo capital, prestando as suas contribuições às instituições parceiras. Dentre suas linhas de trabalho estão: Planejar e realizar formação continuada de profissionais da educação e de outros segmentos, em Educação para a Paz, Prevenção de Violência, Mediação de Conflitos, Pedagogia da Conivência, Interculturalidade, Direitos Humanos, Pedagogia dos Valores e Justiça Restaurativa na Educação; Promover e apoiar atividades de fomento a ambiência restaurativa e a cultura de paz nas escola e em outros espaços sociais; Promover encontros de estudos e pesquisa referente à temática.

Tecer Redes para enfrentar as violências e construir a paz
Núcleo de Cultura de Paz e Práticas Restaurativas Nelson Mandela [1]

Entre os principais desafios que vivemos nos dias atuais está superar as visões sectárias marcadas por uma perspectiva única de compreender a vida e suas relações e que fomentam a exclusão social e as desigualdades com base nos preconceitos e discriminações. Segundo os princípios da Cultura de Paz, a violência pode ser entendida como expressão trágica da condição humana. Sofrimento, desigualdade, injustiça, desrespeito, insegurança, desejo de poder sobre o outro, geram violência.

O ato violento pode ser compreendido como um pedido de ajuda de um ser humano que não consegue expressar seus sentimentos e necessidades de forma mais saudável e menos destrutiva. É fundamental acolher e transformar o sofrimento para que as pessoas possam encontrar uma maneira mais sadia e menos violenta de mostrar seus sentimentos e necessidades. Agressores precisam de ajuda e de muita empatia para deixar de serem agressores. Necessidades não satisfeitas geram frustração e raiva e, algumas vezes mais violência. Segundo Yoder (2018), trauma e violência estão integralmente conectados: de um modo geral, a violência leva ao trauma, e o trauma não curado, por sua vez, pode levar à violência e a cada vez menos segurança.

 A compreensão da complexidade do fenômeno violento exige uma abordagem interdisciplinar e intersetorial. Desta maneira se faz necessário ampliar os conhecimentos sobre os princípios de uma Cultura de Paz e cultura da violência, introduzindo tecnologias e saberes para expandir a capacidade dos atores sociais para que possam compreender, nomear  e lidar com as diferentes formas de expressões das violências, sejam essas expressões individuais ou coletivas.

A articulação e fortalecimento de redes socioassistenciais é uma dimensão fundamental na construção de uma Cultura de Paz, pois os atores sociais que as compõem terão a oportunidade de vislumbrar formas de articulação  e execução das políticas públicas mais criativas, menos excludentes e violentas, que poderão resultar em ações de prevenção e enfrentamento das condições geradoras de violências e desta forma ser capaz de  fomentar e garantir direitos.

O trabalho conjunto realizado de forma articulada e integrada, além de contribuir para a troca de saberes, proporciona uma solução ao considerar a totalidade dos problemas do usuário, ou seja, a complexidade da realidade social, de modo que, seus problemas não sejam tratados de forma fragmentada, através de ações desarticuladas que dificultam sua inclusão social. Como processo bastante complexo, o trabalho em rede exige uma grande mudança cultural por parte dos atores sociais, para que o desenvolvimento das ações intersetoriais possam ser ampliadas, proporcionando um olhar mais amplo no que se refere às demandas da população. É nesse sentido, que o diálogo e a reflexão devem se fazer presentes, para que haja clareza quanto às orientações normativas relacionadas à operacionalização da intersetorialidade (NASCIMENTO 2010, p.24).

Como exemplo da importância de articular redes intersetorias, compartilhamos a experiência do Núcleo de Cultura de Paz e Práticas Restaurativas Nelson Mandela, que desenvolveu projeto na periferia da zona norte da cidade de São Paulo com o objetivo de enfrentar e erradicar o trabalho infantil.

A experiência contribuiu para o fortalecimento da Rede Intersetorial. Nesse âmbito, promoveu a oportunidade para a reflexão e a responsabilização de atores que executam políticas públicas no território para um olhar mais incisivo sobre a questão do trabalho infantil, considerado uma forma de violência que causa impactos negativos na construção da subjetividade da criança, trazendo implicações no seu desenvolvimento enquanto sujeito de direitos. Além disso, propiciou ampliar o entendimento de que a educação acontece em todos os espaços da comunidade, desde a UBS (Unidade de Saúde Básica) local, a praça e os outros espaços públicos da comunidade ( PEREIRA, 2020 p.228).

Uma rede articulada que acredite e pratique os princípios restaurativos e da não violência, pode transformar equipamentos e serviços aptos a restaurarem vínculos e repararem os danos causados por situações de violências.  Em conjunto os sujeitos que compõem a Rede podem lidar com os conflitos sem reproduzir a lógica punitivista, que geram a estigmatização e que por vezes podem produzir e reproduzir mais violências. É necessário que as instituições que integram o sistema de proteção e garantia de direitos mudem da lógica de sistema hierarquizado e fragmentado para a lógica de rede. Uma lógica de relacionamento horizontal com atuação integrada, articulada e intersetorial.

A existência de espaços de acolhimento e de escuta pode ajudar na elaboração das vivências e na mudança dos significados.  Nesse sentido, capacitação, acompanhamento e supervisão do trabalho dos profissionais e das equipes precisam ser incorporados como elemento estruturante da organização de uma rede de cuidados, capaz de acolher e propor ações que possam romper ciclos estatizantes de violências e dessa maneira contribuir para a construção de uma Cultura de Paz.

Referências

DISKIN, Lia. Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz. Brasília: UNESCO, Fundação Vale, Fundação Palas Athena, 2008.
JARES, Xesús R.. Pedagogia da Convivência. São Paulo, Palas Athena. 2006.
MULLER, Jean-Marie. O Princípio da Não-Violência. Tradução de Inês Polegato. São Paulo: Palas Athena, 2007.
NASCIMENTO, Sueli. Reflexões sobre a intersetorialidade entre as políticas públicas (2010).
PRANIS, Kay. Processos Circulares: teoria e prática. Tradução: Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2010
PEREIRA, S. J.; PAULA, A. A. Arte e Inclusão Social: Caminhos Para Cidadania In:
Fórum Fashion Revolution-3a edição, 2020. São Paulo. Instituto Fashion Revolution Brasil, 2020. v.1. p.228 – 233 . Disponível em: https://issuu.com/fashionrevolution/docs/fr-forum-2020.  Acesso em: 04/05/2021
YODER, Carolyn. A cura do trauma: quando a violência ataca e a segurança comunitária é ameaçada.  Tradução de Luís Fernando Bravo de Barros. Paulo: Palas Athena, 2018.