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Texto Professor
Me. Rogério Goldoni Silveira
PUCPR Campus Londrina

A paz como harmonia generalizada

Viver em paz sempre foi um dos maiores desejos da humanidade. Os povos antigos esperavam que a paz habitasse dentro dos muros de suas cidades, rendendo a segurança e tranquilidade para os cidadãos. Os povos modernos anseiam por ausência de guerras e qualquer tipo de violência. Mas isso está longe de significar a totalidade da paz, pois paz de verdade é o shalom.

Desde o ponto de vista das línguas semitas, o shalom (hebraico) e o salaam (árabe) carregam consigo uma conotação que vai muito além da ausência de guerras e violência. Shalom e salaam apontam para a harmonia generalizada. Isso indica que só se vive em paz quem está em harmonia consigo mesmo, com o próximo, com a criação e com Deus.

Nesse sentido, ainda temos muito a crescer. Pois, como seria possível uma pessoa viver ou desejar a paz se ela não consegue se relacionar com seus próximos? Mas ainda que estivesse com as relações parentais em dia, se não se sentisse segura, nas próprias mãos, livre para agir e atuar no mundo, isso não seria o shalom.

Suponhamos, porém, que tal pessoa fora capaz de rever suas relações e seus dramas existências, a ponto de viver bem com parentes, amigos, vizinhos e consigo mesma, se ela não consegue olhar para todo o cosmos e se sentir parte integrante, não estaria vivendo o shalom.

O shalom, portanto, lança-nos para todas as dimensões da vida. Por isso é que os povos semitas também acreditavam que se a relação com seu Deus não estivesse em dia, também não conseguiriam viver a paz, pois a verdadeira paz é um estado de harmonia generalizada, que toca todas as dimensões da existencialidade.

Sim, a paz é muito mais que ausência de intrigas, guerras e violência. A paz aponta para o positivo da vida, para a harmonização universal. Há uma dimensão psíquica, pois não é normal o ser humano viver sofrer os dramas de tantas doenças psíquicas que lhe afetam, assim como natural seria nos sentirmos “donos de nós”, na melhor acepção da expressão, ou seja, capazes de agir na liberdade, com maturidade, bom senso e visando o bem comum.

Por outro lado, a paz, desde o ponto de vista do shalom, aponta para uma dimensão social. Sim, pois se não há harmonia na sociedade os interesses particulares tomam espaço e, então, só uns poucos conseguem ter acesso a situações especificas, enquanto outros sofrem, padecem e morrem. Se não há justiça, não há shalom.

Porém, há uma outra dimensão igualmente relevante: a dimensão cósmica. Viver o shalom é saber-se integrante do universo, reconhecendo o valor de tudo aquilo que compõe o mundo. Trata-se de reconhecer o valor, pois ainda que tenhamos a pretensão de achar que nós é que damos sentido a cada elemento que compõe o cosmos (ou a criação/natureza), tudo tem um valor objetivo, em si mesmo.

Por isso é que podemos dizer que, se não conseguimos reconhecer o valor da natureza, do bioma no qual estamos inseridos, não vivemos o shalom, não estamos em paz. Não vive em paz quem é capaz de jogar uma lata de refrigerante pela janela do seu carro, assim como aquele que faz a natureza sofrer amargamente. Qual seria a visão de mundo para quem age assim?

Contudo, há outra dimensão que o shalom ajuda a recordarmos: a necessidade de estar de bem com Deus. Talvez você não acredite em uma instância superior. Mas saiba que quando o shalom aponta para a relação harmoniosa com Deus, não está expressando somente o dado da crença em si, como se Deus fosse ficar irado e fazer sofrer quem não acreditasse nele. Pelo contrário, realça todas as dimensões apresentadas até aqui, pois trata de uma relação que se retroalimenta: as dimensões psíquica, social e cosmológica são essenciais para viver harmoniosamente com Deus.

A paz, portanto, é harmonia generalizada e, sim, é uma questão de lógica: não é possível dizer “estamos em paz”, se algo nos impede de viver harmoniosamente conosco mesmos, com as outras pessoas, com a criação/natureza, e com Deus.

Que o shalom habite dentro de nossos muros e em todo o cosmos!

Texto de Aluno
Michael Leonel
Discente da PUCPR

Uma Política Antirracista para se Alcançar uma Cultura de Paz

           O desenvolvimento histórico do Brasil sempre foi envolto a grande desigualdade racial, já que a concentração de recursos e posições de decisão e poder sempre esteve sobre as mãos dos grupos elitizados. No entanto diversos programas recentes buscam atingir diretamente estes problemas e promoverem a cultura de paz na sociedade brasileira como a Década Internacional de Afrodescendentes 2014-2025 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ambos propostos pela ONU.

           Os fatores responsáveis pela desigualdade racial na sociedade brasileira são os séculos de atuação do sistema de escravização e a exclusão da população negra no pós-abolição, estas situações levam a disparidade ao acesso aos cargos de decisão e poder nas instituições públicas e privadas, o acesso à educação, a moradia e os altos índices de violência sobre o corpo negro.

            Os problemas relatados devem estar entre as prioridades de enfrentamento pela sociedade brasileira no século XXI, a fim de garantir os direitos consagrados na Constituição da República de 1988 e em diferentes tratados internacionais, já que para se falar em cultura de paz, as diversas opressões e exclusões devem ser extintas do cenário nacional.

              O que se espera garantir com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especificamente nos objetivos: 4 – educação de qualidade; 10 – redução das desigualdades; 16 – paz, justiça e instituições eficazes. E a Década Internacional de Afrodescendentes 2014-2025, no qual se pretende valorizar as tradições dos povos da diáspora e dos migrantes da contemporaneidade, buscar eliminar as diferentes formas de racismo e efetivar medidas em combate as exclusões raciais e sociais.

                Portanto, a necessidade de superação das formas de arbitrariedades contra os povos negros representa um fundamento necessário para o alcance da cultura de paz, no qual os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável estejam presentes, seja por meio de educação e políticas públicas eficazes, conforme se espera pelos diferentes programas citados