Pontifícia Universidade Católica do Paraná Campus Londrina (PUCPR)
Diretora: Profa. Dra. Nádina Aparecida Moreno

Texto de professor Universitário
Alberto Paulo Neto

NELSON MANDELA, UM PACIFISTA QUE LUTOU PELOS DIREITOS CIVIS E A UNIÃO DE UM PAÍS
Alberto Paulo Neto
Professor do Programa de Pós-Graduação em Bioética da PUCPR
Fundação Araucária

“Não sou mais virtuoso nem disposto ao sacrifício do que qualquer outro, mas compreendi que não poderia fruir as liberdades restritas que me eram permitidas enquanto o meu povo não fosse livre” (Nelson Mandela).

A biografia de Nelson Mandela (1918-2013) nos faz refletir sobre as dificuldades enfrentadas por esse líder na construção de uma sociedade de paz fundada na filosofia “Ubuntu”, “eu sou porque nós somos”, durante o período de apartheid na África do Sul. Essa filosofia social nos ensina a compreender a nossa interdependência e a importância do Outro por meio de atitudes de acolhimento, respeito e vivência comunitária. A filosofia Ubuntu é o estilo de vida dedicado ao progresso da comunidade e a realização de nossos projetos e ideais em coletividade. Ela representa o nosso de senso de humanidade e hospitalidade contra quaisquer formas de divisão social ou discriminação.

O século XX foi um período de tensões e conflitos sociais decorrentes do processo de colonização, a subjugação do outro colonizado e intensificação das desigualdades sociais. Em diversas localidades, a luta pela igualdade étnico-racial e a garantia de direitos humanos fundamentais foram despertadas pelos movimentos sociais e a atuação de líderes globais, como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela. Esses líderes se destacaram por dedicarem todos os seus esforços e vida à construção da sociedade democrática, igualitária e aberta às diversidades culturais. Atualmente, esses ideais globais estão expressos na Agenda 2030 e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, destacamos os ODS 4 -Educação de qualidade, ODS 10 – Redução das desigualdades e ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições fortes, e se constituem como sendo os referenciais para uma sociedade globalizada e orientada ao bem comum.

Nelson Mandela se destacou como líder e ativista pela liberdade e a igualdade na África do Sul. Em sua autobiografia, “Um longo caminho para a liberdade”, Mandela (2012) narra sua luta por uma sociedade de paz, democrática e que garantisse a liberdade para todas as pessoas. As circunstâncias de sua vida, e até mesmo o seu longo período de prisão, se estabeleceram como uma forma de resistência e superação ao regime de opressão e discriminação. A vida de Mandela inspira a construir a sociedade de paz e a obrigação de lutar contra o sistema de injustiça social: “Queria que a África do Sul percebesse que amava os meus inimigos e que só detestava o sistema que nos tinha lançado uns contra os outros”. A unidade da África do Sul e o direito de usufruir de iguais liberdades foram o propósito da vida de Mandela.

Quando olhamos para o futuro a partir da biografia de Mandela, em seu livro “Apontamentos para o futuro: palavras de sabedoria” (2013), ele nos provoca a refletir “Será que as futuras gerações dirão de nós: ‘Eles, de fato, lançaram as bases para a erradicação da pobreza mundial; conseguiram estabelecer uma nova ordem mundial baseada no respeito mútuo, na parceria e na equidade’?” Mandela com a sua vida e trabalho árduo nos mostrou o caminho para resolução dos conflitos e das iniquidades que afetam toda a população mundial. Por isso, devemos ter a coragem de levar adiante o seu legado. Temos que mostrar que a filosofia “Ubuntu” é meio pelo qual a humanidade poderá viver em fraternidade e terá condições de vida digna. Como ele mesmo nos encoraja: “Um futuro brilhante nos acena. Cabe a nós, por meio de trabalho árduo, honestidade e integridade, o ônus de alcançar as estrelas”. Os princípios éticos de Mandela são os referenciais pelos quais podemos avançar nas metas e objetivos propostos pelas Nações Unidas na Agenda 2030. Essas metas e objetivos são desafiadores à humanidade e a nossa capacidade de exercer a empatia e compaixão com as pessoas mais vulneráveis da Terra, assim como, o cumprimento desses objetivos é a responsabilidade desta geração para com as próximas gerações e com os todos seres vivos deste planeta.

A luta pela justiça social e a igualdade foi o caminho que Nelson Mandela edificou a sua vida em prol da humanidade e se tornou o referencial ético para continuarmos o seu legado de aprender a conviver e compartilhar a nossa vida em prol do próximo. A liderança de Mandela serviu para a construção de uma sociedade mais democrática e que superasse as cisões e feridas do passado colonial na África do Sul e no mundo. Aqui, no Brasil, temos muito a aprender com o legado de Mandela porque são semelhantes os desafios que temos que enfrentar diariamente. Como Mandela nos diz, em seu “Conversas que tive comigo mesmo”: “O desafio sem precedentes era restaurar a dignidade humana de nosso povo ao remover todas as formas de discriminação racial, introduzindo o princípio da igualdade em todas as esferas de nossa vida”. Sigamos o ideal de Nelson Mandela e a filosofia Ubuntu seja a nossa diretriz moral.

REFERÊNCIAS
MANDELA, Nelson. Um longo caminho para a liberdade. Lisboa: Planeta, 2012.
MANDELA, Nelson. Apontamentos para o futuro: palavras de sabedoria. Rocco digital, 2013.
MANDELA, Nelson. Conversas que tive comigo mesmo. Rocco digital, 2020.

Texto de aluna Universitária
Laura Balbino Altmann
Estudante universitária do curso de Direito da PUCPR

MARTIN LUTHER KING JR. E A SUA LUTA POR IGUALDADE, UM OLHAR A PARTIR DO ODS 16

Injustiça, preconceito e desigualdade são temas que ainda estão muito presentes no nosso cotidiano, de modo que os desafios deste cenário foram intensificados durante a crise socioeconômica causada pela pandemia de Covid-19. A parcela mais vulnerável da população foi prejudicada, uma vez que não tinha acesso à justiça e às instituições para se protegerem da exposição ao vírus e à violência. Um fato que evidencia isto foi o crime cometido contra George Floyd, que morreu vítima da violência policial motivada por racismo.

A luta por uma sociedade livre de preconceitos e da discriminação racial tem na história, a liderança de Martin Luther King Jr (1929-1968). Ele foi influenciado pela filosofia da não-violência de Gandhi, se tornou um dos maiores líderes do movimento antirracista e de luta pelos direitos civis. Martin Luther King Jr. é conhecido por seus discursos inspiradores, que explicitam sua esperança em uma sociedade fraterna universal. Em 1964, o pacifista ganhou o Prêmio Nobel da Paz por suas ações de protesto e manifestações não-violentas no combate à discriminação racial e às desigualdades. No seu discurso mais famoso, “I have a dream” (Eu tenho um sonho), ele nos inspira a construir a sociedade fundada em iguais direitos e liberdades e que todas as pessoas possam construir a sua vida a partir dos ideais democráticos. “Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade” (Martin Luther King Jr.)

Desse modo, é possível observar que a luta de Martin Luther King Jr. se encontra diretamente com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16 – Paz, proposto pelas Nações Unidas. Os ODS buscam resolver os desafios de desenvolvimento social enfrentados pela população mundial e a combater a fome, as desigualdades sociais e a degradação ao meio ambiente. Posto isto, o ODS 16 objetiva alcançar uma sociedade pacífica, inclusiva, com justiça acessível a todos e com instituições eficazes que garantam desenvolvimento das sociedades. De forma mais aprofundada, o ODS 16 visa reduzir significativamente todas as formas de violência, a promoção e o cumprimento de leis e políticas não-discriminatórias.

Nesse sentido, as metas do ODS 16 estão diretamente ligadas à necessidade de se enfrentar o racismo e qualquer forma de exclusão social. Esse ODS nos inspira a promover a proteção às pessoas mais vulneráveis mediante a garantia de acesso à justiça e políticas que eliminem os diversos tipos de discriminação, sem que seja necessário o uso de meios violentos.

Nesse sentido, a liderança pacifista de Martin Luther King Jr., seus discursos e ações, podem nos motivar a contribuir com o cumprimento das metas do ODS 16, uma vez que são modelos relevantes por estarem engajados na luta por uma sociedade pacífica e justa.